ACEITAÇÃO DO INDIZÍVEL
Quando chegar a tua hora
tu irás sem cerimônia nem palavras
Não deves dizer adeus a ninguém pois faz tempo que a tua existência é,
mais que viver, uma amorosa despedida.
De todas as lembranças recolheste as mais castas
por tornar-te mais criança, agora, pois se inicia um
desprendimento interior,
para sentir melhor —dormir—
no abraço daquela que alguns chamam de morte.
Não lhe ocultes teu sangue nem teu rosto.
Nem temas. É o seu ofício.
Quando chegar a hora, sai, receba-a em tua porta;
E diga entre, amor, e repousa, te esperava.
A PAZ DO HOMEM
Se vive algo sutilmente agradecendo quando se sabe que és um
enfermo incurável,
quando te cresce, pouco a pouco,
o que consideraste teu inimigo e teu implacável juiz.
Sem querer edificas um túmulo secreto para nele enterrar tuas lágrimas,
nomes antigos, e toda tua loucura;
reúnes óleos aromáticos, escolhes a mortalha e alguns gestos incorruptos
que te guiem.
E sentas na beira de tua cova para melhor redigir a ata de ti mesmo.
VIA, VERITAS
Escutai-me se vos digo que não é só o amor que me move
a viver uma presença na distância,
nem a paixão terrestre nem os umbrais repentinos,
não apenas a essência,
me move um supremo perigo nas trevas interiores,
um despertar atônito na tarde, uma aridez harmônica e diferente
neste corpo inabitado,
uma luz sem testemunha;
um acorde de mundos sem surpresa.
Escutai-me e crede-me
é uma oculta dignidade diante do nada.
AMANDO FERNÁNDEZ
(1950-1994)
Nació em Guisa, Cuba y vivía en Miami, Fl. USA. Doctor en Literatura por la Universidad de Miami.
 |
| Adicionar legenda |
Nenhum comentário:
Postar um comentário